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Semana da Mulher: Produzida pelas mãos, percebida pelo olhar

Conheça a história da professora e intérprete Suzana Bertó e como ela utiliza as LIBRAS para tornar a educação mais acessível.

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Suzana Bertó, professora e intérprete de LIBRAS
Suzana Bertó, professora e intérprete de LIBRAS - Foto: Flávio Cunha

Texto: Cainan Silva

Mulher, mãe, estudante e trabalhadora. Suzana de Fátima Fardin Bertó, professora de História e intérprete de LIBRAS, se define dessa forma ao se apresentar. Ela atua como professora do Estado do Rio Grande do Sul desde o ano 2000 quando foi nomeada. “Fui designada para uma escola inclusiva, onde os surdos da cidade e região estudavam. Não sabia nem o alfabeto datilológico para me comunicar com o meu aluno, o Jurandir. Foi ele que criou o meu sinal em LIBRAS e com quem eu descobri uma língua diferente da minha, produzida pelas mãos e percebida pelo olhar”, conta.

“Educação acessível é quando eu me vejo no outro.”

Suzana de Fátima Fardin Bertó, professora do Estado do RS

 Uma das prioridades da carreira de Suzana tem sido o seu compromisso com uma educação com maior acessibilidade. “Educação acessível é quando eu me vejo no outro. Quando eu faço esse exercício, me avalio e percebo as necessidades das pessoas. Quando eu planejo pensando no outro e as diferenças são apenas diferenças. Esse é meu motivo de lutar pela acessibilidade para todos, mesmo que precise ser repetido muitas vezes”. Apesar dos avanços na legislação, algumas das mudanças positivas na acessibilidade na educação ainda são recentes.

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A primeira escola de surdos no Brasil foi fundada, em 1857, pelo francês Ernest Huet, que veio ao Brasil a convite de Dom Pedro II. O currículo extenso de Huet na educação para surdos levou o então imperador a chamá-lo para realizar o trabalho em nosso país. No começo, o professor utilizava referências da Língua de Sinais Francesa, mas foi se adaptando até desenvolver a Língua Brasileira de Sinais. Atualmente, a escola é chamada de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).

“A educação para surdos tem uma especificidade, a linguística. Nosso maior obstáculo é fazer as pessoas entenderem o que a pessoa com surdez quer nos dizer e como é a melhor forma para ela aprender. Uma das necessidades observadas é a implementação de escolas bilíngues. Aprender na sua língua natural é um direito”, afirma Suzana. A Língua Brasileira de Sinais é a segunda língua oficial no Brasil e a legislação garante, por meio do Decreto nº 5.626/2005, o acesso às pessoas surdas nas instituições de ensino brasileiras.

VISIBILIDADE NO ESTADO

A história da intérprete se cruza com a da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc), em 2020, no período mais grave da pandemia. Suzana foi convidada para participar do Programa Pré-Enem, que visa oportunizar aulas preparatórias para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aos estudantes gaúchos. “Desde então, foram incontáveis participações em transmissões ao vivo da Seduc. Estar nas lives, vídeos da secretaria e do Governo, deu visibilidade à Língua de Sinais, reforçando a necessidade de comunicação e interação dos diferentes linguisticamente.

“Como sujeito ouvinte, professora, tradutora e intérprete de Libras tenho a oportunidade de aproximar as diferenças. ”

Suzana de Fátima Fardin Bertó, professora do Estado do RS

De acordo com Suzana, seu trabalho é como o de criar uma ponte entre surdos e ouvintes. “Como sujeito ouvinte, professora, tradutora e intérprete de Libras tenho a oportunidade de aproximar as diferenças. Sou vista como a possibilidade de mostrar que é possível a conexão entre sujeitos de comunicação diferentes dentro de um órgão público”, explica.

Suzana mostra como é o seu sinal em LIBRAS
Suzana mostra como é o seu sinal em LIBRAS - Foto: Flávio Cunha

A MULHER NA EDUCAÇÃO

Desde os anos de estudante, Suzana já carregava consigo uma “teimosia” e inquietação. Estudou no campo e só foi para a cidade grande na época do Ensino Médio, que acabou concluindo na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA). Obteve licenciatura em História, pós-graduação em Orientação Educacional, mestrado em Letras e atualmente é doutoranda em Letras-Linguística e Cognição pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC).

“A escola marcou muito a minha infância, a professora era minha parente, tinha uma linda caligrafia e eu copiava a letra dela, queria fazer igual, amava escrever no quadro, achava ela uma mulher tão elegante, a mais inteligente do mundo, meu modelo de vida”, relata a educadora. Ela chegou a flertar com a ideia de cursar Jornalismo, durante a adolescência, mas acabou escolhendo História ao prestar o vestibular.

Na época, Suzana era escrevente no Cartório de Registro de Imóveis, em Santa Cruz do Sul, e lhe foi sugerido que cursasse Direito. “Aquela Suzana, lá da roça, que admirava a professora falou mais alto. Nunca me arrependi, tenho muito orgulho da mulher que me tornei e da profissão que me sustenta. Tenho muito prazer em dizer o que sou e o que me tornei”.

“Não consigo compreender o espaço formal da educação sem a presença feminina, daquela que carrega vidas.”

Suzana de Fátima Fardin Bertó, professora do Estado do RS

 Ao ser questionada sobre como vê o seu papel como mulher na educação, Suzana não hesita em demonstrar a importância do protagonismo feminino na área. “Não vejo a Educação sem a mulher. Viver é aprender e nesse viver está a presença educadora da mulher. A mãe é uma educadora, a avó também é. Não consigo compreender o espaço formal da educação sem a presença feminina, daquela que carrega vidas. Eu sempre penso que estamos no mundo para fazer a diferença na vida de alguém, se for para inspirar e ver a felicidade do outro, melhor ainda”, finaliza.

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