Painel debate organização da escola por ciclos de formação
Publicação:

Entre os painéis do Seminário Internacional de Educação realizado pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) nesta terça-feira (3), está o que discute a organização do currículo por ciclos de formação, proposta que foi adotada pela Seduc para as escolas do campo neste ano. Para contribuir com o debate, duas escolas da rede estadual - Escola Técnica Estadual Achilino de Santis, de Santo Antônio das Missões, município da 32ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), São Luiz Gonzaga, e EEEF José Martins Correa Filho, de Santo Antônio da Patrulha, município da 11ª CRE ? Osório trouxeram representantes à Capital para fazer relato de boas práticas, as diretoras Naterce Andréia Balbé Machado e Daniela Souza da Rosa.
As painelistas convidadas, Andréa Fetzner e Elvira Souza Lima, complementaram o painel. A intervenção de Elvira abordou a relação do desenvolvimento humano com a aprendizagem, que se dá por ciclo e não por faixa etária. Andréa trouxe para o público a visão de que a organização da escola pelos ciclos pode contribuir para a democratização da escola. O debate foi mediado pela coordenadora de Gestão da Aprendizagem da Seduc, Ester Soares, e pela diretora de Recursos Humanos da secretaria, Virgínia Nascimento.
Diretora da Escola Estadual Correa Filho, Daniela da Rosa destacou que os ciclos trouxeram movimento e um salto de qualidade na administração escolar. Com o trabalho pedagógico organizado a partir da pesquisa socioantropológica, a escola atende 49 alunos, em três ciclos de formação, oferecendo currículo trabalhado de forma conjunta por professores regentes e um especialista. ?O ciclo funciona a partir de motivação, e nós somos os responsáveis por ele acontecer de forma efetiva. Estamos entusiasmados?, disse a diretora.
A mesma ideia vem de Santo Antônio das Missões. A diretora Naterce apresentou o trabalho da escola Achilino de Santis, que mantém turmas desde a educação infantil até o pós-médio. Em ciclos, são 143 alunos do Ensino Fundamental. Planejamento coletivo, pesquisa socioantropológica que embasa o conceito dos Direitos de Aprendizagem e o conteúdo a ser tratado em aula são características do trabalho.
Elvira e o ciclo do desenvolvimento humano
Elvira Lima é pós-doutorada em Educação Multicultural pela Universidade do Novo México, pós-doutorada em Linguística e Antropologia, pela Universidade de Stanford e Desenvolvimento Humano pela Medical School University of New Jersey. Possui intenso trabalho em pesquisa, consultoria e assessoria na área educacional. Nesta tarde, conversou com os professores estaduais sobre a relação da educação com o ciclo do desenvolvimento humano. Ela iniciou a fala lembrando que a organização temporal da escola não é uma novidade pedagógica e atende ao processo do desenvolvimento humano. ?Nós somos organizados em ciclos, é natural que a aprendizagem se estruture assim. O importante é a pessoa aprender a registrar o desenvolvimento do seu saber?, frisou a professora, que destaca a importância da formação continuada para os professores para o êxito da proposta.
Andréa: o ciclo e a democratização da escola
Andréa Fetzner é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Departamento de Didática, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO. Tem ampla experiência na área de Educação, com ênfase na formação de professores, orientando pesquisas, em especial, nos temas ciclos de formação, currículo, aprendizagem, políticas educacionais e avaliação emancipatória. Atualmente, coordena atualmente pesquisas concepções de agrupamento escolar e currículo: estudo da organização escolar em ciclos nos municípios do estado do Rio de Janeiro.
Para Andréa, os ciclos de formação podem contribuir de forma efetiva para a democratização da escola. ?Pensar a ação de uma escola que pense o conhecimento a partir da realidade, para oferecer uma escola em que o sujeito possa ser um sujeito de fato, em que aprenda para se fazer sujeito?, enfatiza.
Ciclos de formação na educação do campo
A ideia construída pela Seduc para a reestruturação curricular das 670 escolas do campo organiza o currículo em três Ciclos de Formação, cada um com três anos ininterruptos, agrupando os estudantes por faixa etária: 1º ciclo, dos 6 aos 8 anos; 2º ciclo, dos 9 aos 11; e 3º ciclo, dos 12 aos 14 anos. No total, o currículo tem nove anos, com um período de transição do sistema de ensino, das séries para os ciclos, mantidos os 200 dias letivos e as 800 horas/aula. A proposta é embasada em quatro conceitos: avaliação emancipatória, currículo interdisciplinar, pesquisa e organização curricular nas quatro áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas).
Outro tema que está sendo debatido transversalmente em todos os debates é a avaliação institucional realizada através do Sistema Estadual de Avaliação Participativa (SEAP-RS), que busca interferir no processo ensino-aprendizagem, articulando-se diretamente com as políticas desenvolvidas pela atual gestão, especialmente aquelas envolvidas a partir do eixo Reestruturação Curricular da Educação Básica e Formação Continuada.