Ensino Politécnico congrega a comunidade em Nonoai
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A educação como estrutura social que engloba os anseios da comunidade se destaca regionalmente, há mais de 80 anos, no município de Nonoai, no norte do Estado. A Escola Estadual de Ensino Médio Maria Dulcina conduz os 1.200 alunos por uma aprendizagem que visa à inclusão, a cidadania e privilegia a paixão pelo conhecimento. Esses são destaques do eixo norteador que a escola embasa e envolve o seu grupo de funcionários, pais, educadores, alunos e comunidade.
Essa característica de reconhecimento e diálogo com a comunidade está marcada desde o nome escolhido para a escola. A paranaense Maria Dulcina Vilhena (1864 ? 1937) foi a primeira professora com formação em magistério que atuou, no então distrito de Nonohay, nos anos de 1910 a 1930. E em conjunto com a comunidade criou o primeiro grupo escolar em 1930, conquista que originaria mais tarde a Escola Estadual de Ensino Médio Maria Dulcina.
E esse perfil, de quem visou à socialização do saber atrai, ainda hoje, a participação de pessoas como a Silvana Mascarello, mãe do estudante e gaiteiro da invernada da escola, Matheus. ?Estamos sempre presente, porque precisamos incentivar as atividades e isso traz um outro tipo de conhecimento para eles?, afirmou a mãe que acompanha de perto os ensaios e apresentações da tradicional invernada que existe a dezesseis anos. A invernada unida ao projeto ?Sonho de Guri? acrescenta o resgate e a valorização da cultura gaúcha dentro da escola.
Mas nos últimos dois anos a escola ganhou outra ferramenta que agrega e relaciona o conhecimento provido na escola, e o seu real impacto no cotidiano dos alunos e da cidade ? o Ensino Médio Politécnico. Para o diretor Hélio José Mossi, a EMADU - como a escola é conhecida entre os nonaienses ? busca uma interação com o mundo. ?Temos diferentes projetos que propiciam isso, mas hoje o Ensino Médio Politécnico dá uma visão do que é a socialização do trabalho desenvolvido. Trabalhos que estão em desenvolvimento e se aperfeiçoando, e eles trazem sugestões de melhorias para a escola e para o munícipio. Acredito que o Politécnico traz consigo a inovação de interagir com nossa realidade?, concluiu o diretor.
A proposta do Ensino Médio Politécnico, conduzido pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc), visa à reestruturação curricular e tem a responsabilidade de ofertar aos estudantes uma mudança que coloque o Ensino Médio para além da mera continuidade do Ensino Fundamental. Um ensino que contemple a qualificação, a articulação com o mundo do trabalho e as práticas produtivas. Um dos pontos principais desse currículo é a inclusão, como metodologia, da pesquisa pedagogicamente estruturada que possibilita a construção de novos conhecimentos e a formação de sujeitos pesquisadores, críticos e reflexivos. A pesquisa é o processo que, integrado ao cotidiano da escola, garante a apropriação adequada da realidade e da aprendizagem, é o que defende a coordenadora do Politécnico na escola, Tânia Mara Machado Thomé. ?Hoje vemos a possibilidade de um Ensino Médio que está mudando e que está mexendo com os alunos, a gente vê que o aluno construiu, foi atrás, e sempre com o apoio dos professores, estão colocando a mão na massa e isso é a construção do conhecimento. Nós percebemos que eles vão buscar ?no mundo? informações e bases para as pesquisas, e ao mesmo tempo eles levam ?para o mundo? os resultados. Está saindo muito conhecimento de dentro da escola?, explicou a coordenadora.
O mês de junho serviu para apresentar os resultados e os encaminhamentos dos projetos desenvolvidos pelos alunos nesse semestre. O 1º e o 2º ano da escola mostraram uma diversidade de temas, como: mutações genéticas, tráfico humano, literatura, religião, turismo, teatro, homossexualismo e homofobia, drogas, trânsito, obesidade, racismo, poluição sonora, acidentes de trabalho, escotismo, agrotóxicos, marketing, entre outros. Trabalhos que mostraram interações e interesses regionais e mundiais, como o tema escolhido pelos alunos Yan de Mello, Vinicius Oliveira, Ubiratan Bones, Rosangela Fiorentin e Marcos Trentim. O terrorismo foi tema do projeto dos alunos do 2º ano, que apresentaram o trabalho dentro de um túnel feito com papel pardo que representava os refúgios utilizados pelos terroristas. ?Nós achamos esse assunto interessante pelo que víamos nos jornais, e resolvemos nos aprofundar no tema. Queríamos mostrar e entender um pouco mais sobre o que vem acontecendo pelo mundo?, explicou o aluno Yan. Mas as pesquisas não focalizaram somente em temas universais, houve também a preocupação em diagnosticar problemas e encontrar soluções dentro da realidade escolar. Como o projeto que levantou a discussão sobre a utilização da água da chuva dentro da EMADU. ?Percebemos que na escola existem calhas, mas a água da chuva é jogada para rua. Nós queremos que essa água sirva para lavar as calçadas, para os vasos sanitários e irrigação da horta?, comentou a aluna Natalia Limatozzi. Já para Bruna Frondoloso, outra componente do grupo, o objetivo do trabalho é implantar o sistema na escola para reduzir gastos financeiros e melhorar a conscientização sobre a utilização da água. E a estudante, Luana Valentina Catafesta, complementa. ?Resolvemos fazer um projeto que possa mudar a nossa realidade. É um pequeno gesto que queremos espalhar pelas casas da cidade por uma consciência sustentável?, disse.
O currículo do Politécnico na Escola Maria Dulcina é integrado em duas partes. A formação geral congrega as quatro áreas do conhecimento e suas tecnologias: ciências humanas, ciências da natureza, linguagens e matemática. E dentro da parte diversificada congrega eixos temáticos como o acompanhamento pedagógico, meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e arte, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, comunicação e uso de mídias e investigação no campo das ciências da natureza. ?O Politécnico veio para oportunizar que os alunos saiam do tradicional e introduzam na escola um ambiente de pesquisa. Hoje eles utilizam melhor o espaço escolar, pois tudo vira fonte de pesquisa. A escola mais que nunca está mexida, os alunos estão ganhando asas, eles começaram a se apropriar da escola e perceberem que são capazes? enfatizou o vice-diretor, Nelso dos Santos. A coordenadora do Politécnico, Tânia Thome, complementa que os alunos ganharam responsabilidades na interação com a escola, e isso muda o comportamento e aumenta o cuidado com o ambiente escolar.
A escola, que faz parte da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), possui ainda as oficinas de canto, flauta doce, acompanhamento pedagógico, vôlei e futsal, disponibilizadas pelo programa Mais Educação, e ações de formações pedagógicas através do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa. E também tem se equipado com investimentos do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), além da distribuição de tablets e lousas digitais, modernizando as ferramentas de trabalho dos educadores. Esses recursos, juntamente com a mobilização em torno da escola geraram, por exemplo, o resultado de 5,6 pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), um índice superior ao alcançado pelo Estado em 2011 ? que foi de 5,1. O IDEB representa a qualidade da educação a partir da observação do fluxo (progressão ao longo dos anos) e do desenvolvimento dos alunos (aprendizado). Para o vice-diretor, Nelso dos Santos, os resultados se devem também pela otimização dos espaços. ?Compreendemos que onde as crianças colocam o pé deve ser um espaço de aprendizagem. Ao redor da escola, a quadra de esporte e a horta, por exemplo, se tornaram um espaço físico que propicia o conhecimento?, define.
O trabalho da Escola Maria Dulcina se torna um elo de transformação social ocasionada pela educação. ?O aluno tem que ser responsável, ter sua liberdade, ser criativo, e que lá fora consiga propor para a sociedade algumas mudanças. Não basta apenas que eles compreendam os conteúdos, eles precisam sair com um conhecimento amplo sobre a vida. E a educação tem esse papel de formar um agente transformador e comprometido com a sociedade?, pontua o diretor Hélio Mossi. Comprometimento associado a ações que integram a comunidade, e com o apoio de políticas de inclusão são fatores que estão democratizando o acesso a uma escola pública de qualidade.