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Semana da Mulher: Uma voz feminina e indígena na educação

Conheça Sueli Krengre Cândido, primeira mulher indígena a trabalhar na Secretaria da Educação do RS

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Sueli Krengre Cândido, primeira mulher indígena a trabalhar na Seduc
Sueli Krengre Cândido, primeira mulher indígena a trabalhar na Seduc - Foto: Cainan Silva

Por Vanessa Soares

A trajetória de Sueli Krengre Cândido, primeira mulher indígena a trabalhar na Secretaria da Educação do Estado do RS (Seduc), é marcada por um constante trânsito, entre o aprendizado e a família. Nesse ínterim, seu foco principal tem sido fortalecer os povos indígenas, com um espaço de melhor vivência coletiva e colaborativa entre educadores e educandos.

No começo dos anos 80, ela já vivia enormes desafios para poder estudar, mas sabia que o compromisso com o estudo era o passaporte para conquistar a tão sonhada independência. Filha de pai monitor bilíngue, sua cultura valoriza os conhecimentos transmitidos de pai para filho e de parentes mais próximos.

“Observava atentamente o empenho dele em passar seu conhecimento a todos da aldeia, isso me encantava”. E foi por meio destes processos de aprendizagem que Sueli desenvolveu à vontade em educar, compreender o outro. Para ela, é a educação que garante a continuidade da existência dos seus povos e sua perpetuação na história.

O conteúdo que se aprende nas escolas indígenas é diferente daquele de homens brancos. Isso acontece porque os indígenas têm direito a ter uma escola diferenciada, um espaço que aborde conteúdos que se relacionem com a cultura e a língua de cada povo. Já na convivência com sua aldeia dos Kaingang, aprendeu as regras e de como dialogar com todos. Aos poucos, foi entendendo sua posição naquele espaço, liderado majoritariamente por homens e fez do dia a dia uma luta por igualdade e visibilidade das mulheres de suas comunidades.

Cainan Silva
Sueli integra a subsecretaria de Desenvolvimento da Educação da Seduc - Foto: Cainan Silva

Saiba mais sobre os povos Kaingang

 De acordo com o portal Povos Indígenas no Brasil, Os Kaingang vivem em mais de 30 Terras Indígenas que representam uma pequena parcela de seus territórios tradicionais. Por estarem distribuídas em quatro estados, a situação das comunidades apresenta as mais variadas condições.

“Não tive infância, aprendi ser mãe, sendo ainda criança. Foi uma fase difícil, abri mão de tudo, menos dos estudos”

Sueli Krengre Cândido

Sueli sempre gostou de fabricar seus objetos artesanais para vender, de modo a contribuir com o sustento da casa. “Só quem não tinha formação podia vender seus próprios artesanatos e ajudar na renda familiar”. Sua vida ficou mais difícil aos 13 anos de idade, cuja perda de sua mãe para o câncer, resultou no alcoolismo do pai, sem mais saúde física e nem emocional para cuidar da família, tendo que assumir integralmente os cuidados de suas 4 irmãs mais novas.

“Não tive infância, aprendi ser mãe, sendo ainda criança. Foi uma fase difícil, abri mão de tudo, menos dos estudos. Sabia que precisava lutar cada vez mais para servir de referência positiva aos meus irmãos”, recorda Sueli.

Na zona rural do município de Redentora, que faz parte da 21º CRE (Três Passos), Sueli acordava de madrugada e andava quilômetros para chegar à cidade. Nos dias frios, o desafio era garantir um lugar quentinho sentada na proteção do motor do veículo, para se manter aquecida. ” Não tinha casaco, apenas uma blusinha de verão, bermuda e chinelo de dedo”.

Ao retornar para casa, lembra com carinho do condutor do ônibus, que parava gentilmente na estrada para os estudantes subirem às árvores e colherem as frutas maduras. “Com esse gesto, Seu José garantia a nossa janta”.

Sua jornada na comunidade durou 20 anos. Depois, já casada, deu aulas em outra comunidade, onde teve 4 filhos. Atualmente está solteira e tem uma filha caçula de 10 anos, fruto de um novo relacionamento. A pequena, Myg Refej Cândido Ribeiro ensaia os primeiros passos de independência em direção à mãe. Apesar da pouca idade, já trabalha como modelo infantil.

Sueli cursava sua 3ª especialização em Etnologia antes de ingressar na Seduc
Sueli cursava sua 3ª especialização em Etnologia antes de ingressar na Seduc - Foto: Cainan Silva

 História na Educação

Com medidas como a Lei de Cotas, sancionada em 29 de agosto de 2012, que prevê a reserva de vagas para grupos, como pessoas autodeclaradas pretas, pardas e indígenas (PPI) e candidatos de baixa renda, houve um acréscimo no número de pessoas representantes de povos indígenas nas universidades públicas brasileiras.

No entanto, dificuldades para permanecer nos cursos de nível superior, em especial para as mulheres, continuam. Ainda existe a pressão para que elas cuidem do lar e da família e conciliem essas tarefas com os estudos. Ainda assim, Sueli concluiu a graduação em Licenciatura Intercultural Indígena, no sul da Mata Atlântica e realizou concurso público para o cargo de Educação indígena com conhecimento na língua Kaingang, obtendo a 1ª colocação.

“Nem nos meus melhores sonhos, imaginei chegar tão longe”

Sueli Krengre Cândido

Em 2005, fez novamente concurso e mais uma vez foi aprovada. Obteve pós-graduação em gestão escolar, pela FAVENI e educação indígena, pela INE. Além de ser formadora no programa Ação saberes indígenas na escola. Também cursava sua 3ª especialização em Etnologia, quando foi convidada a ingressar na Secretaria da Educação. “Abandonei o curso para vir para cá, e estou muito animada com essa nova etapa de vida”.

De acordo com Sueli, seu trabalho na Seduc será mais uma porta de representatividade das mulheres indígenas, nos diversos espaços de trabalho.

“ Nem nos meus melhores sonhos, imaginei chegar tão longe”.

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