Projeto Escola sem Violência valoriza o ambiente escolar
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Desde 2006, alunos, professores, funcionários e diretoria da Escola Estadual de Ensino Médio Padre Réus, da zona sul da Capital, convivem com novos ingredientes na rotina escolar. São as oficinas do projeto Escola sem Violência, idealizadas pelo professor Aloizio Pedersen e que têm contribuído para a diminuição da agressividade no ambiente da escola, proporcionado mais cuidados com o patrimônio, gerando economia de dinheiro e, por isso, maior investimento em equipamentos. Além disso, o projeto auxiliou na diminuição dos índices de evasão, repetência e reprovação e na detecção ? e encaminhamento para tratamento - de problemas psicológicos de alguns alunos.
O projeto consiste no desenvolvimento de oficinas artísticas e corporais, nas quais os alunos são incitados a refletir e externar opiniões referentes à diversidade, à igualdade, ao respeito às diferenças e à violência e bullying no ambiente escolar. ?Aqui sabemos que o outro é o outro, que conviver com a diferença é legal?, resume o professor. Cerca de 650 alunos do turno da manhã participam das oficinas. ?O bullying anda muito forte nas escolas; a gente gosta das atividades e pode auxiliar outras pessoas?, destaca Lucas Fest. Aos 15 anos, Lucas lembra que o autor do massacre ocorrido em escola do Rio de Janeiro na última semana foi vítima de violência no ambiente escolar. ?Aprendemos a ser mais tolerantes com a diferença?, destaca o aluno, cujo grupo desenhou cartaz com a frase ?Não faça bullying, faça amigos?.
Início
Em 2006, a escola foi alvo de depredação e pichação. Foram necessárias duas pinturas para recuperar os danos. Em três meses, diz o professor Aloizio, essa realidade mudou. Os alunos passaram a ter um ambiente onde refletir e expressar a sua agressividade, artisticamente. ?Ao produzir cartazes, ou pintar quadros, ou exercitar o corpo ou alongar-se, o aluno está organizando a sua vida?, defende o professor. ?Um professor da Capital, em média, perde 35 dias letivos pedindo silêncio em classe; é preciso ter autoridade, mas estar próximo dos alunos; é preciso ter disposição para vê-los como indivíduos que sabem muito e que têm o que dizer?, enfatiza. A iniciativa recebe o apoio da equipe diretiva e dos demais professores. ?Há dois anos, a escola não precisa ser pintada, permitindo que os recursos fossem aplicados em outras áreas, como aquisição de data show, por exemplo?, diz o diretor da escola, Ruy Guimarães, um dos apoiadores do projeto Escola sem Violência.
32 anos
Professor há 32 anos, Aloizio Pedersen atua em sala de aula da Escola Padre Réus desde 1998. Além das oficinas do turno da manhã, ele dá aulas de teatro a alunos da noite. ?Acredito numa nova escola, que vê o aluno de forma integral, que instrumentalize o estudante com informação, que o auxilie a posicionar-se, acreditando no potencial e no processo autoral do indivíduo. Muitas vezes, a violência ou o bullying constituem o início de uma caminhada que pode levar o sujeito para a prisão ou à morte?, ressalta. O aluno Pierry Rolim, aos 14 anos, concorda e defende o trabalho em sala de aula: ?Pessoas que podem ter desestruturação familiar muitas vezes descontam em quem não tem as mesmas oportunidades, atacando, excluindo o outro. Aprendemos a não agir com violência. No fundo, quem pratica o bullying ou a violência contra o outro busca ser o centro das atenções. Aqui, temos um canal de expressão?, resume Pierry.
As oficinas do professor Aloizio integram o Polo Cultural da escola. Na Padre Reus, os alunos escrevem, desenham, tocam instrumentos, praticam esportes, expressam sua opinião de diferentes formas. As atividades desenvolvidas dialogam com o projeto pedagógico e com o exterior. Uma Bienal já foi realizada, tendo como foco a ?conversa? da poesia com outras artes. Outro exemplo foi a produção de pintura, com 35 telas, em uma releitura da obra de Iberê Camargo. As obras foram feitas em 2010 e expostas neste mês do Palácio da Justiça. ?O ser humano é integral. Precisamos trabalhar integralmente com ele?, resume o professor.