No Dia do Amigo, professoras e aluna contam sobre as amizades surgidas na escola
Distância gerada pela quarentena faz com que comunidade escolar busque alternativas online para matar a saudade
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O Dia do Amigo celebrado nesta segunda-feira, 20 de julho, será diferente. Ao contrário dos outros anos, não haverá beijos e abraços, não haverá o calor humano presencial que aquece os corações e as amizades. O essencial, porém, não faltará: afeto.
Na escola, muito mais do que Matemática e Português, professores e alunos aprendem sobre companheirismo e amizade. Nesta reportagem, eles contam sobre como é essa parceria surgida nos bancos escolares e que, agora, tem se adaptado à nova realidade e buscado alternativas online para manter o carinho aceso.
Carinho nos pequenos gestos

A professora Josiane Brahm Vahal não esconde a saudade que sente de seus alunos da Escola João de Deus Nunes, de Canguçu. “Tá bem complicado. Vai bem por fases: às vezes sentimos muita falta, principalmente quando os alunos se afastam um pouco. A gente nota que eles se afastam, por sentirem falta de estar junto”, reconhece.
Para se reaproximar, a educadora busca o contato pelas redes sociais, onde é amiga de muitos dos estudantes. “Eu sigo eles no Facebook, no Instagram e, quando curtimos coisas deles, eles se sentem acolhidos. Esses dias, perguntei para uma aluna sobre se ela tinha melhorado, porque andou ficando doente, e ela ficou superfeliz”, lembra Josiane. Segundo a docente, pequenos gestos como esse são muito valorizados pelos estudantes.
A professora acredita que a solidão tem batido especialmente entre alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, que sentem mais falta de estar com pessoas da sua idade, mas não costumam pedir apoio. Josiane, então, busca reafirmar os laços e tentar ajudá-los. “Digo que antes de ser professora deles, somos todos amigos, e que um deve ajudar o outro neste momento”, ressalta. Até mesmo a linguagem usada com a turma foi modificada: em vez de mensagens mais formais, a educadora adotou termos mais carinhosos, como “amadinhos”, para que os alunos não esqueçam da afetividade existente entre eles.
Amizades que ficam para a vida

Leila Franco Schmidt está trabalhando na 36ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), de Ijuí, mas, até pouco tempo atrás, era orientadora educacional na Escola de Ensino Fundamental Ijuí. A educadora afirma que ela, assim como outros educadores, está tentando se adaptar da melhor forma possível à distância, mas que a convivência faz falta. “É estranho não ter o contato físico diário, não ver os olhinhos brilhando, não ter aquela conversa. A presença deles faz falta, embora no virtual a gente tente manter contato”, revela.
A saudade é ainda maior quando Leila vai à escola e a vê vazia. “A gente percebe aquele silêncio, aquele vazio nos corredores, entra na sala e não vê o rostinho deles”, cita. O remédio é gravar vídeos, manter contatos diários, conversar por áudio, mesmo que seja só para mandar um “oi”, para manter a relação.
Quando estava atuando na Escola Ijuí, a orientadora educacional fez amizade com uma aluna (agora já formada) a quem ajudou em um momento difícil. “Era um momento em que ela estava precisando de uma conversa. Nós nos conhecemos na orientação e eu acho que consegui ajudá-la bastante. Dali para frente, ela se tornou uma companheira, está sempre junto nos projetos da escola”, destaca. Para Leila, amizades como esta ficam para a vida: “Acredito muito na educação com afetividade.”
A educadora conta que seus ex-alunos sentem muita falta das aulas presenciais e frequentemente perguntam quando poderão voltar a ir à escola. “Antes eles não falavam tanto do carinho que sentem pelos colegas, pelos professores pelo pessoal da merenda, da secretaria, mas agora, que sentem saudade, falam”, observa.
Como mensagem para este Dia do Amigo, a orientadora educacional diz que acredita que a amizade construída em sala de aula é muito verdadeira e positiva tanto para o professor como para o aluno. “Essa relação de afetividade, nós levamos para a vida”.
Saudade de toda a equipe da escola

A aluna Isabelle Bonini Gabbi, de dez anos, está no 5º ano do Colégio Estadual Três Mártires, de Palmeira das Missões. A menina, que já escreveu e publicou pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) o livro digital “Adara, confissões de uma órfã”, confessa que a falta de convivência com colegas e equipe da escola tem sido um pouco difícil e muito diferente.
“Os dias parecem estranhos e monótonos. Tenho muita saudade do calor humano, dos meus professores, colegas, cada um tem uma grande contribuição. A escola é como se fosse uma segunda família”, destaca a estudante. Ela cita, ainda, a falta que sente dos funcionários, das merendeiras, da diretora e da vice, do responsável pela xerox, dos monitores, dos responsáveis pela limpeza e da “tia” da cantina.
Por outro lado, Isabelle diz estar gostando de ficar mais tempo com a família, comer lanches feitos por sua mãe, desenhar, cantar, estudar e conhecer coisas novas, como documentários e a história do município onde mora. Com a comunidade escolar, a menina mantém contato por WhatsApp e Instagram. “A gente sempre se fala, quando dá saudade”, conta.
Para a aluna, a escola é um lugar de criar vínculos fortes de amizade, que durarão sua vida inteira. “Amigos são joias raras nos dias atuais. Muita gente valoriza os amigos virtuais, mas, às vezes, eles são amigos ilusórios, então é muito importante termos amigos verdadeiros ao nosso lado”, reflete. Ela diz que tem muitos amigos e é com eles que busca conselhos e comemora junto.