Rede Estadual de Ensino garante acesso de comunidades indígenas às Aulas Programadas
Rio Grande do Sul tem 90 escolas indígenas e mais de 7 mil estudantes nos núcleos Guarani e Kaingang
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A Secretaria Estadual da Educação (Seduc), por meio dos Núcleos de Educação Indígena Guarani e Kaingang, do Departamento de Educação, busca atender as demandas das comunidades, formar e valorizar os professores das etnias e promover a gestão da educação escolar nas aldeias. Ao todo, no Rio Grande do Sul, são 90 escolas indígenas e mais de 7 mil estudantes distribuídos nas regiões das Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) de Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria, Cruz Alta, Osório, Guaíba, Santo Ângelo, Erechim, Palmeira das Missões, Três Passos e Gravataí.
Agora, durante o período de suspensão das aulas presenciais, devido ao combate à disseminação do coronavírus no Estado, o trabalho com as Aulas Programadas segue sendo realizado pelos educadores.
Na 14ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), de Santo Ângelo, dois servidores chamaram a atenção ao se engajarem na garantia do acesso de seus alunos indígenas às Aulas Programadas.
O agente educacional II, Zeno Kaipper Ely, decidiu passar a quarentena junto à aldeia em que fica a Escola Estadual de Ensino Fundamental Igineo Romeu Koe’ju, onde trabalha, para oferecer merenda e distribuir o material didático para os alunos.
A rotina de Ely, que leciona no local desde 2016 e já até fala tupi-guarani, mudou diante da orientação de isolamento total das comunidades. “Resolvi ficar porque, para os indígenas, a escola é uma referência. Sem ela, eles ficam desassistidos. Eles valorizam muito, não só pela alimentação, mas são também parceiros na aprendizagem dos alunos”, ressalta.
O agente educacional recebe por e-mail o material dos professores para as Aulas Programadas, imprime e repassa aos cerca de 70 estudantes da instituição de ensino. Além disso, ele também é responsável por ir até a cidade comprar a alimentação escolar e, com a ajuda de dois indígenas, fazer a merenda e servir para os alunos. O que sobra é oferecido para o restante da aldeia, que tem como fonte principal de renda a venda de artesanato nas Ruínas de São Miguel das Missões e, desde que o sítio arqueológico foi fechado, em razão da pandemia, sofre com dificuldades financeiras.
O que leva Ely a se dedicar tanto é o interesse dos alunos. “Eu me surpreendi. Diariamente, são passadas atividades para os estudantes e, no dia seguinte, eles me trazem de volta. Às vezes eles têm dúvidas e me procuram, pois têm tido bastante interesse em aprender”, comenta.
O cacique Verá Mir? (ou Tiago Timóteo, em língua não indígena), preocupado com o risco de contaminação da aldeia pelo coronavírus, determinou que o local fosse isolado e houvesse o mínimo possível de circulação de pessoas por ali. Lá dentro, eles seguem fazendo suas atividades do dia a dia, dentro da nova rotina. “As crianças e os adolescentes se adaptaram bem às Aulas Programadas”, analisa.
Dedicação dos professores
O mesmo isolamento está ocorrendo em outras localidades indígenas, como a Tekoa Pyau, na Ressaca Buriti, distrito de Santo Ângelo.
Diante da impossibilidade de um dos estudantes do Instituto Estadual de Educação Odão Felippe Pippi sair da aldeia para buscar o material das Aulas Programadas, e da falta de acesso à internet para acompanhar as aulas online, a professora do Curso Normal, Leidir Carnelutti, percorreu quilômetros para levar o conteúdo até o aluno.
A docente aproveitou, ainda, para entregar um celular doado, para que o discente possa se comunicar, e mantimentos arrecadados que devem garantir a alimentação de 25 crianças da comunidade durante um mês.
“Eu fiz uma sala online e estou dando aula para todos os alunos por ali. Aí, os colegas falaram que ele não tinha internet na região. Falei com o cacique para ver como eu poderia entregar o material, marquei de encontrá-lo a 100 metros da aldeia e eu levei os cadernos. Ele gostou”, relata.
A professora encontrou na atitude uma forma de valorizar o esforço do estudante, que costuma percorrer nove quilômetros entre a aldeia e a escola. “Eu pensei: e se fosse meu filho que não tivesse acesso a esse material, como ele ficaria quando as aulas normais voltassem? Eu gostaria que alguém se preocupasse com isso”, explica.
A próxima etapa de materiais deve ser entregue ao aluno indígena na próxima semana. Além de apoiar o estudante, Leidir, aliada a também professora da rede estadual, Marilise Lacroix Voese, está produzindo máscaras de pano para distribuir nos abrigos de acolhimento de crianças e adolescentes da região. A dupla tem entregue dez equipamentos por dia.
Trabalho da 14ª CRE
As duas escolas indígenas de responsabilidade da 14ª CRE – a Igineo Romeu Koe’ju e a Escola Estadual de Ensino Médio Buriti – têm tido acompanhamento de integrantes da Rede Estadual de Ensino.
A coordenadora da 14ª CRE, Rosa Maria de Souza, ressalta o caráter voluntário das ações dos servidores, que perceberam a situação difícil na qual se encontram as aldeias indígenas em um momento que não é possível realizar a venda de artesanatos. “Assim como outras entidades, eles estão auxiliando a comunidade neste momento”, destaca.
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